
A maior detentora corporativa de Bitcoin do planeta, a Strategy Inc. — anteriormente conhecida como MicroStrategy — está no centro de uma tempestade que pode redefinir o mercado de ações ligado à criptoeconomia. De acordo com um relatório contundente do JPMorgan, a empresa pode enfrentar saídas superiores a US$ 2,8 bilhões caso seja excluída dos índices da MSCI, e até US$ 11,6 bilhões caso outras bolsas e benchmarks internacionais acompanhem a decisão.
Trata-se de um dos alertas mais fortes já feitos por uma instituição bancária sobre o impacto que mudanças regulatórias e de composição de índices podem causar em empresas que acumulam grandes volumes de Bitcoin.
O relatório reforça: a sobrevivência de Strategy na elite dos índices globais está em risco real.
Por que Strategy está sob ameaça — e por que isso importa tanto agora
A queda nas ações da Strategy nas últimas semanas não está sendo causada apenas pela desvalorização recente do Bitcoin. Analistas do JPMorgan afirmam que o principal motivo para o tombo de mais de 40% no último mês é o medo crescente de que a empresa seja expulsa dos índices MSCI USA, Nasdaq 100, Russell 1000 e outros.
Essa expulsão poderia acionar:
- saídas massivas de fundos passivos;
- desmonte de posições de ETFs que têm obrigação de seguir essas listas;
- queda brusca na liquidez das ações;
- dificuldade adicional de levantar capital via dívida ou novas emissões;
- colapso da confiança institucional na empresa.
Ou seja: a presença nos índices é o que mantém Strategy em grande parte dos portfólios globais. Sem isso, ela pode desmoronar.
Por que a MSCI está considerando remover Strategy?
O ponto central está na nova proposta da MSCI, que sugere excluir empresas cujo modelo de negócio principal seja acumular Bitcoin ou outros criptoativos, especialmente quando esses ativos representam mais de 50% do valor total da companhia.
Strategy se encaixa perfeitamente nesse critério:
- A empresa detém cerca de US$ 56 bilhões em Bitcoin, segundo dados do SaylorTracker.
- Seu valor de mercado é de US$ 51 bilhões, evidenciando que a maior parte do valuation vem exclusivamente do estoque de BTC.
A MSCI argumenta que empresas desse tipo não representam o setor tecnológico real, nem executam atividades de inovação tradicional. Logo, sua inclusão em índices de ações distorce métricas e influencia carteiras de investidores que, muitas vezes, nem percebem que estão expostos ao Bitcoin indiretamente.
A “invasão indireta” do Bitcoin em portfólios institucionais
De acordo com o JPMorgan:
“A inclusão da Strategy nos índices permitiu que a exposição ao Bitcoin invadisse de forma indireta tanto carteiras institucionais quanto de investidores de varejo.”
Ou seja, a presença da Strategy nesses índices funcionou como uma porta dos fundos para que pensões, fundos de pensão, ETFs tradicionais e carteiras de aposentadoria acabassem comprando Bitcoin sem necessariamente saber.
Se a MSCI decidir fechar essa “porta”, o movimento contrário — venda massiva e rápida — pode derrubar as ações da Strategy de maneira mais agressiva do que qualquer queda do próprio Bitcoin.
Quanto a empresa pode perder? Os números são alarmantes
Segundo o JPMorgan:
- US$ 2,8 bilhões podem sair imediatamente se apenas os índices MSCI expulsarem a empresa.
- US$ 11,6 bilhões podem ser liquidados se Nasdaq, Russell e outros benchmarks seguirem a mesma política.
Esse volume representa:
- mais de 20% do valor total da companhia;
- potencial de impacto direto no preço da ação;
- queda de liquidez de até 70%;
- diminuição severa na capacidade de captar recursos.
A queda do mNAV expõe um problema estrutural
O mNAV (multiple-to-net-asset value) — indicador que mostra quanto os investidores pagam a mais pelas ações da empresa em relação ao valor real de seus Bitcoins — caiu de 2,7 em 2024 para 0,90 em 2025.
Isso significa que:
- o mercado já não aceita pagar prêmio pela empresa;
- muitos investidores estão fugindo por medo de exclusão dos índices;
- Strategy pode estar negociando abaixo do valor de seus Bitcoins, o que indica perda de confiança.
Essa deterioração na percepção de valor mostra que a euforia institucional acabou.
Saylor nega que esteja vendendo — mas isso não acalma o mercado
Michael Saylor, fundador e presidente executivo da Strategy, fez declarações negando qualquer venda de Bitcoin ou liquidação parcial das reservas da empresa.
Porém, os investidores não estão convencidos.
Ações da Strategy caíram mais de 5% apenas na última quinta-feira, enquanto o Bitcoin recuou quase 10%. Para muitos analistas, a empresa perdeu sua blindagem emocional: antes, quedas do BTC eram vistas como oportunidades; agora, são vistas como sinais de risco sistêmico.
O efeito dominó: o que acontece se a Strategy for removida?
A exclusão pode desencadear:
1. Grandes fundos passivos terão que vender imediatamente
ETFs e fundos que replicam índices não têm escolha. Eles são obrigados a liquidar.
2. Fundos institucionais podem evitar Strategy para reduzir risco regulatório
Empresas muito expostas a Bitcoin são vistas como instáveis para carteiras de longo prazo.
3. Custos de captação se tornam proibitivos
Sem índices, a Strategy perde credibilidade para emitir bonds e debêntures.
4. Menos volume de negociação
Liquidez seca.
Papeis ficam mais voláteis.
Grandes players saem.
5. Investidores tradicionais fogem
A volatilidade afasta fundos multimercado, fundos macro e carteiras institucionais.
6. Pressão para venda de BTC pode aumentar
Em um cenário extremo, a empresa poderia se ver forçada a vender parte de suas reservas — algo que Saylor sempre prometeu nunca fazer.
Por que isso pode afetar o próprio Bitcoin?
Embora a Strategy não seja o único gigante corporativo que acumulou BTC, ela é o maior símbolo da narrativa de adoção institucional via tesouraria corporativa.
Se ela cair, o impacto é duplo:
- confiança institucional no Bitcoin diminui,
- a tese “empresas acumulando BTC” perde força,
- mercado pode ver liquidez adicional sendo derramada,
- a pressão vendedora aumenta em cascata.
Strategy funciona como uma espécie de “termômetro emocional” do mercado de criptomoedas.
Sua queda pode ser sentida em todo o ecossistema.
Entenda por que o futuro da Strategy será decidido em 15 de janeiro
A MSCI informou que a consulta pública será encerrada ao final do ano, e a decisão definitiva será divulgada em 15 de janeiro.
Esse dia pode se tornar:
- o marco da transformação das empresas de tesouraria cripto,
- ou o ponto de ruptura que gera um choque global em fundos passivos,
- ou ainda o início de uma nova política regulatória sobre exposição indireta a Bitcoin.
Os próximos meses serão cruciais não apenas para a Strategy, mas para o próprio mercado cripto corporativo.
Impacto para investidores brasileiros
Investidores no Brasil que possuem:
- ações internacionais via BDRs,
- ETFs atrelados ao Nasdaq 100,
- fundos multimercado com exposição ao índice MSCI,
- fundos de tecnologia com participação indireta em Bitcoin
… podem sofrer volatilidade adicional caso Strategy seja removida.
Isso reforça a importância de:
- diversificar,
- entender riscos estruturais,
- acompanhar decisões de composição de índices,
- monitorar movimentações de gestoras globais.



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